Monday, October 03, 2005

não gosto que me chateiem a cabeça
um homem já não pode ter paz
é sempre a mesma
------ coisa
saio de casa,
só quero passear o cão
vou à padaria e já venho
o video que ficou pra entregar?
eu vou lá num instante
eu faço, eu vou
não me demoro, prometo!
Mas é sempre isto, sempre alguém a chatear-me
A cabeça, sempre alguém
que me vê no passeio
e sente o impulso
de vir ter comigo
de ser social
de ser conhecido:
de ser chato
de vir
chatear-me a cabeça!
mas será, meu deus, pedir tanto
que não me chateiem a cabeça?

Augusto Brandão Burguês



Augusto Brandão Burgês, autor de uma interessante obra que abarca o ensaio, a poesia, a vinicultura e a caça aos chapéus que fogem com o vento. Este poema é retirado da sua obra mais interventiva “A rebelião dos chatos” (1983) em que há uma insurreição explícita contra a venda de peles de marta no Crasmoiarsque num dos seus poemas mais famosos que se intitula “Era só quem vos martasse a todos!”